Em entrevista com a Link to Leaders Levy Gasparian, CEO da Mufyn Music, falou um pouco sobre a nossa trajetória, sobre como funcionam nossos serviços de música ambiente com identidade para espaços comerciais, sobre os efeitos da pandemia e um pouco sobre o que esperar do futuro sob a ótica musical.
Leia, abaixo, a entrevista completa. Boa leitura! :)
A Mufyn nasceu em 2017, quando o seu fundador Levy Gasparian veio do Brasil para começar em Portugal uma nova história. Em entrevista ao Link To Leaders, o responsável, que conta no seu currículo como 13 anos no mercado de music branding e mais de 30 anos como DJ, fala de como ajuda as empresas a diferenciarem-se através da música e das soluções pensadas para o pós-pandemia.
Já lhe aconteceu associar um cheiro ou uma música a uma loja ou a um espaço em específico? Não é por acaso: há toda uma experiência de marketing sensorial por trás deste conceito. Levy Gasparian é fundador e CEO da Mufyn – Music for your needs, uma empresa especializada em marketing sensorial que cria uma identidade musical própria para cada marca.
Através do marketing sensorial, o responsável afirma que é possível comunicar de forma mais eficaz com os seus públicos-alvo, cimentando a sua imagem e reputação junto dos mesmos, e criando um sentido de lealdade e relações de confiança duradouras. Entre os seus clientes, encontramos as pizzarias Luzzo, os restaurantes Boa Bao e Zazah, a loja Casa Pau Brasil e o Avila Spaces.
Como surgiu a Mufyn Music?
Eu sou DJ desde 1984 e especializei-me em casamentos e aniversários. Foram 20 anos sem ter sextas e sábados livres. Mas em muitos destes eventos estavam presentes donos de restaurantes e de grandes lojas que gostavam da minha música e pediam-me para eu gravar um CD que pudessem passar nos seus espaços. Percebi que havia ali um potencial e, com o correr do tempo, a tecnologia ajudou-me a criar um software que me permitiu aperfeiçoar as playlists e fazer tudo à distância.
No Brasil cheguei a trabalhar 4 mil pontos de venda. Mas em 2017 apaixonei-me por Portugal e acabei por vir com minha família para fazer a minha história por aqui. Assim nasceu a Mufyn, da experiência que trouxe na bagagem e do facto de perceber que em Portugal não havia nenhuma oferta do género: playlists criadas a pensar no tipo de negócio ou marca e no seu consumidor.
O que o levou a escolher Portugal para viver?
A minha ideia sempre foi abrir a empresa para o mundo e descobri que Portugal é um país pequeno mas muito sedento de novidades, de oportunidades. Tudo é incrível, de norte a sul. Apaixonei-me pela cultura, pelas praias, pelas pessoas e pela forma simples de se levar a vida. Não tive dificuldades em me adaptar, acho que devia ter o coração luso desde sempre e não sabia.
De que forma a Mufyn foi afetada pela pandemia?
A pandemia afetou muito a área da gastronomia e hotelaria que são os nossos maiores clientes. Quando percebemos o impacto da mesma nos negócios dos nossos clientes, decidimos não cobrar pelo nosso serviço durante a quarentena, pois sabemos da importância da música num momento como este. Neste período trabalhámos no sentido de atualizar as playlists de todos os nossos clientes, a fim de garantir um ambiente renovado, positivo e uma boa surpresa para os seus consumidores no regresso pós-quarentena.
“Criámos também um novo serviço para atender à procura das empresas nesta situação atual: o MUFYN PLAY, um serviço de música ambiente no qual as playlists já estão prontas. Basta o cliente escolher aquela com a qual o seu negócio mais se identifica”.
Numa altura em que os espaços comerciais encerram as portas ou por decisão definitiva ou em períodos específicos devido às medidas de confinamento, como está a Mufyn a adaptar-se aos novos tempos? Viram os clientes a cancelarem os vossos serviços?
No Brasil, vivemos crises cíclicas, e, de certa forma, aprendi que quando a empresa tem problemas é o momento para parceiros comerciais como a Mufyn estarem mais perto e ajudar. Alguns clientes fecharam as portas, infelizmente, outros não tinham capacidade para pagar o serviço, e por isso fizemos alguns sacrifícios de forma a que pudessem superar a crise. Hoje a maioria dos nossos clientes estão a voltar e já temos novas histórias a caminho.
Como todos os negócios, procuramos reiventar-nos perante os novos tempos. Aproveitámos e criámos um site completamente novo, mais simples e direto. Criámos também um novo serviço para atender a procura das empresas nesta situação atual: o Mufyn Play, um serviço de música ambiente através do qual as playlists já estão prontas. Basta o cliente escolher aquela com a qual o seu negócio mais se identifica. Tudo é feito através do site – simples, fácil e barato. Não é um serviço personalizado como o da Identidade Musical, mas já é um começo numa altura tão relevante como esta para se manterem e até atraírem novos consumidores.
Como pretende ajudar neste novo contexto as empresas a diferenciarem-se no mercado através da música?
Sempre que há uma crise, surgem novas oportunidades. Durante a pandemia, todos em casa “descobriram” que podem pedir delivery ou mesmo que, com um pouco de dedicação e seguindo uma boa receita, podemos cozinhar como se estivéssemos num bom restaurante. Ora, o que faz as pessoas saírem de casa então? Porquê irmos a um cinema se temos em casa uma boa TV e um bom sofá?
A resposta é a “Experiência” no ponto de venda. A comida tem de ser boa, o espaço tem de ser acolhedor, o atendimento tem de ser excelente e a música tem de ser incrível. Neste novo contexto da pandemia, a procura pelo serviço de delivery aumentou imenso. E uma das formas de levar esta experiência para a casa das pessoas é através da música. O cliente recebe a comida e desfruta a ouvir a playlist que criámos especialmente para o restaurante.
E indo um pouco mais além, já temos solicitações de eventos, djs para sunset e outras ações musicais já pensadas para o pós-pandemia. Estas ações conectam música à marca e ajudam a fixá-la na memória do consumidor.
Como se transforma o ADN de uma empresa em música? Que fatores têm em consideração?
As empresas são seres independentes. As vezes o dono é moderno, porém a sua marca é clássica. Não é uma questão de gosto pessoal. Entendermos isto é o primeiro passo para se encontrar a música certa do seu negócio. E tudo entra nesta “composição musical”: o espaço, a arquitetura, o público-alvo, a decoração, se é vintage ou contemporânea, se o atendimento é caloroso ou mais relaxado, a história da marca e de quem a criou…
É preciso estudar a marca, o seu conceito, o seu público-alvo e, dentro de um detalhado processo de curadoria musical, definir o estilo e as melhores músicas para aquele negócio.
De que forma o marketing sensorial influência a experiência do consumidor? O que tem vindo a mudar ao longo dos anos?
Aquele restaurante fenomenal, mas com um serviço mal humorado e com uma TV ligada a passar qualquer tipo de informação desnecessária já não resulta como antes. As pessoas procuram boas experiências, querem participar de grupos e lugares com os quais se identificam. Dando um exemplo de um dos nossos clientes: é impossível ir ao Boa Bao e não ficar impressionado com o espaço, a comida, o serviço e a música. Tudo foi pensado ao pormenor para que o cliente tenha uma sensação extraordinária e queira voltar. E a Mufyn é responsável pelas playlists e a música é escolhida uma a uma.
O resultado é único – além da experiência que leva consigo, o cliente, impressionado com o que a marca oferece, partilha nas suas redes a experiência positiva, segue o perfil do restaurante e faz o passa a palavra. E isto é o que se pretende.
“Um hotel com lobby, restaurante e piscina precisa de três playlists diferentes e ao mesmo tempo conectadas. É necessário muito tempo de pesquisa”.
Quanto tempo demoram a criar uma playlist para um determinado negócio?
De modo geral, uma semana, mas isso depende muito de cada espaço e da complexidade musical. Um hotel com lobby, restaurante e piscina precisa de três playlists diferentes e ao mesmo tempo conectadas. É necessário muito tempo de pesquisa. Para se colocar 400 músicas numa playlist, precisamos de ouvir duas mil músicas pelo menos. Por exemplo, um cliente recente necessitava de uma playlist focada no estilo “Blues”. Foi uma semana a pesquisar a origem dos blues e todas as suas ramificações até aos dias de hoje. Ficou incrível!
Qual o género musical que mais se adeque à restauração? E à hotelaria?
Não existem limites ao género em si, apenas devemos entender como funciona cada espaço e ter a música certa. Não há fórmulas, mas sim um estudo intensivo para se perceber como se pode juntar a marca, o que ela oferece e o seu público alvo num só conceito a fim de criarmos a playlist ideal.
Que playlist sugeria para quem está a lançar um negócio, ou seja, para um jovem empreendedor?
Primeiro falaríamos com o empreendedor: qual a génese da marca? Qual o seu ADN? A música tem de respirar o que a marca quer passar e não apenas o que o público quer ouvir. Se a marca tiver personalidade, as pessoas estarão aptas a ouvir o que a marca quer oferecer musicalmente.
De acordo com a legislação portuguesa, o utilizador de música deverá pagar uma remuneração equitativa a produtores e artistas, que será dividida entre eles em partes iguais. Qual é a sua opinião sobre este tema?
A verdade é que toda a cadeia de pessoas envolvidas numa música deveria receber a sua parte. O importante é haver transparência na distribuição. Mas, depois, cada envolvido acaba por puxar mais a brasa à sua sardinha e o processo acaba por não respeitar todas as partes. A verdade é que existe um lado da minha empresa que promove o artista e a música dele e muitas vezes o mesmo não tem o devido reconhecimento. A legislação existe, mas não é aplicada ou fiscalizada. O que acaba por prejudicar quem realmente criou o tema.
Quantos clientes têm atualmente e de que áreas?
Aqui em Portugal trabalhamos com marcas de vários setores: hotelaria, moda, restauração, supermercados. De modo geral, qualquer espaço que precise de música ambiente poderá ser nosso cliente.
Qual foi o cliente mais difícil/mais desafiante que tiveram até agora?
Todos os novos clientes são desafiantes. Para criar uma identidade musical do zero é preciso muita pesquisa. O próprio mercado português foi um desafio. Vindo de uma cultura parecida, mas também muito diferente, sempre procurei respeitar e perceber a música portuguesa além do fado tradicional. Posso dizer que acrescentar ícones atuais como Benjamim, Luís Severo, Cassete Pirata a marcas que não os conheciam é algo que tenho muito orgulho.
Como serão as exigências dos consumidores ao nível da experiência de compra no futuro?
Cada vez mais as marcas que conversarem com os seus clientes e perceberem a sua personalidade e exigências pessoais, melhores resultados terão. As marcas que não o fizerem, ficarão para trás. Isso já está a acontecer e com a pandemia, com menos dinheiro, seremos ainda mais seletivos no ato da compra.
Hoje a concorrência não é apenas uma questão de preço. O cliente escolhe quem oferece um bom preço com bom atendimento e ambiente. O perfil antiquado de se vender apenas produtos está a acabar. É preciso entregarmos mais aos consumidores para conseguir fidelizá-los.
Quais as tendências do marketing sensorial para 2021?
A tendência é apostar em eventos. Temos um mundo on hold por causa da pandemia e todos queremos ter novas vivências e experiências. As empresas precisam de se renovar e mostrarem-se vivas e melhores do que antes. Ações de marketing ligadas à música terão muita força com o fim da pandemia.
Quanto prevê faturar neste ano?
Este ano o nosso foco, e creio que o da grande maioria, é manter o negócio ativo. Passámos cinco meses sem faturar, não despedimos ninguém e continuamos a ajudar os nossos clientes. Temos uma equipa alinhada e preparada para um bom crescimento no ano que vem.
“Acreditamos que o nosso sucesso está intimamente ligado aos conteúdos únicos e diferentes que podemos criar para as empresas”.
Como vê a Mufyn dentro de 2 anos?
Esperamos crescer gradualmente e organicamente sem perder o foco que é o atendimento dedicado e pessoal. O nosso objetivo é sermos uma referência na música ambiente de qualidade em Portugal. Acreditamos que o nosso sucesso está intimamente ligado aos conteúdos únicos e diferentes que podemos criar para as empresas. Conhecer os donos das marcas e ajudá-los a fazer a diferença.
Projetos para o futuro…
A nossa ideia é incentivar a nova música portuguesa, comunicar novos artistas agregando-os às marcas que temos e fomentar eventos, festivais e ações de marketing. Em breve, iremos tentar também outros mercados. Mas tudo a seu tempo.
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